Mais uma bonita opção de escalada na Pedra da Sebastiana, predominantemente em aderência, contando com alguns lances em artificial fixo e uma variante em móvel.
Mesmo com as conquistas da "FEMERJ 20" (D3 4° V E3 - 400m) em julho de 2020, da "Intempéries" (D1 3° IVsup E2/E3 - 165m) em julho de 2022 e da "No, Woman no Cry" (D3 4° VI A1 E2 - 405m) em agosto de 2022, na Pedra da Sebastiana, Vale dos Frades / Teresópolis, eu continuava olhando para aquela imensa parede e sentia que ainda havia muito espaço para novas (e boas) linhas.
Assim sendo, aproveitei o final de semana do dia 3 de junho de 2023 para uma nova incursão. Neste dia, eu estava tentando ainda me recompor da difícil organização do evento Rio nas Montanhas e precisava muito espairecer em alguma parede. Aproveitei que neste final de semana haveria a Abertura de Temporada do PARNASO, para explorar um pouco mais a Sebastiana, já que ambos seriam relativamente próximos.
Foi assim que, às 6:30h da manhã, eu e meu filho João Pedro rumamos para o nosso destino, lá chegando às 8h em ponto. Por coincidência, chegamos praticamente juntos com o Waldecy e mais uma turma que faria a mesma montanha, porém, por trilha. Fizemos boa parte do caminho do carro até a base juntos, trajeto este que dura cerca de 1 hora, sendo a maioria deste tempo em uma estrada de terra muito agradável, finalizando em um pasto que dá acesso à parede.
Nosso objetivo seria uma linha que eu havistara durante a conquista da "Intempéries", ficando logo ao seu lado esquerdo, iniciando em lances de aderência, em direção a um grande teto que corta horizontalmente uma grande porção da parede. Da base, a impressão é que o teto é realmente proeminente e que logo após, existia uma grande barreira de vegetação. Portanto, nosso objetivo seria a conquista de uma via relativamente curta, que chegasse até o dito teto.
Apanhamos um pouco em uma tentativa de linha que se mostrou muito mais difícil do que esperávamos, com lances verticais e desprovidos de qualquer micro-agarra. Resolvemos então andar um poquinho para a direita, onde finalmente encontramos a mina de ouro: uma linha bonita, limpa e com algumas cristaleiras no início, logo após um fácil costão que dá acesso a um platô de vegetação (de onde a via realmente inicia).
A primeira enfiada saiu fácil, com lances de no máximo 4° grau. Apesar da pequena e ótima cristaleira inicial, a parede vai ganhando verticalidade e as agarras simplesmente somem, deixando os lances na mais pura aderência. O ponto mais positivo foi ter encontrado um pequeno platô para estabelecer a P1. João por sua vez, escalou que nem um foguete e se juntou a mim na velocidade da luz.
Curiosamente, a impressão (da base) é que a parede é pequena e que menos de uma enfiada completa seria suficiente para alcançar o teto. Mas já havíamos feito o costão inicial com 15 metros e esticado mais uma enfiada completa de 60 metros, ainda possuindo terreno até o nosso objetivo. Depois da P1, a parede ganha verticalidade e os lances começam a ficar bem mais delicados, em uma aderência limpa, porém trabalhosa. Passo a passo, os lances foram saindo, sempre com proteção muito justa, até que, 25 metros após a parada dupla, consegui alcançar o diedro formado pelo grande teto.
Estabeleci a P2 neste ponto, montei um top-rope e voltei à P1, de onde armei segurança para o João encarar os lances do crux da via. Uma vez mais, ele escalou com uma velocidade incrível, embora tenha parado algumas poucas vezes para analisar as passadas. Ao finalizar, desmontamos o top-rope deste trecho final, montamos nosso rapel e retornamos à base, protegendo melhor os lances que haviam ficado bem expostos.
Ao meio dia, já estávamos de volta à base, muito felizes pela nova via e pela beleza dos lances. Então, quando peguei o drone para fazer uma foto aérea (para ajudar no desenho do croqui), percebi que após o teto, em um ângulo mais favorável, é perceptível que a linha em aderência continua depois da virada, o que nos deu um pequeno banho de água fria, por não termos investido nisso. De todo modo, o dia havia sido maravilhoso e fomos felizes da vida para a ATM do PARNASO.
Algumas semanas depois, desta vez sem a companhia do João, mas sim com a minha esposa, Laura, com o advento do aniversário do querido Rogéria (Ricardo, para os não intímos... rs...), em Três Picos, resolvemos retornar à linha e verificar se, de fato, a continuação era possível. Desta vez, subimos a serra na noite de sexta feira, dormimos no carro próximo ao início da caminhada e, no sábado, dia 24 de julho de 2023, acordamos por volta das 7:30h, para a nova investida, começando a caminhar por volta das 8:15h.
Chegamos relativamente rápido na base e às 9:20h já estavámos escalando os lances conquistados anteriormente. Comecei a conquistar após a "P2" da investida anterior à partir das 9:50h, chegando abaixo do enorme teto e percebendo que a única forma de passá-lo, seria em artificial. Com isso, posicionei três chepeletas ao longo da sua extensão, procurando distanciá-las muito pouco entre si, para que o lance possa ser feito sem grandes transtornos. E cabe aqui dizer que foi muito divertido passar aquele negativo pendurado nos estribos, com uma vista alucinante do vale!
Poucos metros após o teto, estabeleci a nova P2 da via, acima de um platô de mato. Laura veio muito receosa inicialmente com as passadas de 5° grau em aderência (o que foi vencido sem problema algum) e, na sequência, pelo teto, haja vista ser o primeiro artificial desta natureza para ela. Mas ao contrário do que pensamos, ela se posicionou muito bem e venceu o negativo com uma facilidade ímpar, chegando à segunda parada também com uma ótima velocidade.
Conforme havíamos visto nas imagens do drone, a linha segue em aderência, conferindo mais 60 metros praticamente em linha reta, dando uma leve guinada para a esquerda no início, em uma churreira bem interessante. A saída da P2 representa um lance delicado, entretanto, após a segunda chapeleta, a graduação cai até a chegada na P3.
E para nossa surpresa, da P3, onde pensávamos que a parede acabaria (pela barreira de vegetação), descobrimos que ainda havia uma linha muito clara a ser seguida. Incialmente, existem lances fáceis em aderência, chegando ao segundo teto da linha, o qual é vencido em um pequeno lance de A0, com uma chapeleta de apoio, voltando a lances em aderência.
Neste ponto, após o segundo teto, originalmente, subi pela direita, em uma bonita fenda frontal, que termina sobre um enorme bloco de pedra, voltando à esquerda, para a óbvia linha. Entretanto, quando a Laura subiu, percebemos que, além de fugir um pouco da linha natural, este lance destoaria de todo o resto, demandando algumas peças móveis para a repetição da via. Assim sendo, decidimos conquistar um traçado mais reto, pela aderência, mantendo esta fenda como uma variante ("Variante Fugaz" IV E2 - 15m - Móvel).
À sequência, ainda na quarta enfiada, há um terceiro e último teto, bem menor (praticamente um degrau), que possui agarras em sua borda superior, permitindo vencê-lo em livre, sendo o último crux da via, antes de chegar à P4. O final da via se dá pela presença de uma forte barreira de bromélias, antecedendo também, o maior teto da parede, este sim, repleto de vegetação e sem sentido em ser vencido.
Por fim, às 12:20h, Laura chegara à parada dupla final e, após algumas fotos, nos preparamos para descer. Durante o rapel, fomos intermediando vários lances mais expostos, feitos "na coragem" durante a subida, assim como duplicamos as paradas intermediárias, permitindo que a escalada seja feita (e rapelada) de forma confortável, com uma única corda de 60 metros.
Às 14:30h já estávamos no carro, desfrutando de uma cervejinha super gelada, comemorarmos mais uma bonita via, em um lugar simplesmente mágico! Definimos o nome da via como "Ócio Criativo", graduada em D2 4° V A1 E2 - 225m, sendo esta mais uma ótima opção na região, sobretudo para quem é amante de aderência, ou para quem quer treinar um pouco de artificial fixo em negativo.
Agradecimentos ao João Pedro e à Laura, pelos dias maravilhosos juntos na rocha! Amo vocês!
Linda via, Pedrinho, parabéns a vcs!!!👍👍👏👏💪💪💪🧗🧗🍻🍻🍻🍻🥳🥳🥳