O montanhismo perdeu um de seus grandes nomes, Almir Siller, que partiu para montanhas mais altas no dia 18 de fevereiro de 2025. Conquistei então esta bela via, comintúito de honrar sua trajetória e eternizar seu nome em um local no qual conduziu inúmeras excursões, marcando a vida de muitos.

Era manhã do dia 18 de fevereiro, uma terça feira, na qual eu estava finalizando uma conquista em Piratininga, quando recebi a triste notícia do falecimento do Almir.... Toda a alegria do momento se transformou em lágrimas, me fazendo parar por vários minutos, até que a ficha caísse.
Além da paixão pelo Fluminese, Almir também tinha outro clube em seu coração... o Centro Excursionista Brasileiro (CEB), pelo qual guiou milhares de excursões e onde o conheci, quando eu ainda era criança, ao entrar no clube em 1990. Com seus 45 anos de montanha, possuía experiência e currículo invejáveis, mas ao meu ver, suas maiores qualidades eram a incrível serenidade e carinho que ele conseguia transmitir de forma única. Junto com a sua parceira Norma, formava um casal incrível, que sempre levava alegria a qualquer lugar que fosse. Pessoalmente, sempre tive muito respeito, admiração e carinho pelo Almir, tendo muitos momentos inesquecíveis nestes mais de 30 anos de convívio. Nada mais justo do que fazer uma homenagem à altura. Para saber um pouco mais sobre esta pessoa iluminada, clique aqui.

Com esta ideia em mente, busquei uma parede que fosse digna desta homenagem, o que me fez recordar de uma área bastante frequentada para caminhadas, mas que ainda não havia uma única via de escalada: o Morro do Cocanha, no coração do Parque Nacional da Tijuca (PNT). Em sua face leste, há um enorme paredão, bastante característico por possuir uma barriga negativa que o corta de ponta a ponta, em sua metade superior. Apesar de ser uma parede de fácil acesso, curiosamente tratava-se de um setor ainda sem nenhuma linha conquistada.

Realizei uma boa exploração pelo local, no dia 08 de março de 2025, estacionando o carro na frente da entrada da trilha da Cascata da Baronesa, pegando a estradinha de terra em direção ao Bosque dos Eucaliptos. Deste ponto, há uma trilha muito bem marcada, em direção à Cova da Onça, trilha esta que também faz o cume do Morro do Cocanha e do Taquara. Com cerca de 30 minutos de trilha, chega-se a um ponto bem próximo da parede, pela sua lateral esquerda. Após sair da trilha, para a direita, em uma curva bem acentuada à esquerda, pega-se uma picada que leva direto à base da parede. Ao chegar na parede, deve-se margear em direção à porção direita dela, em um ponto em que a afloração rochosa fica desprovida de vegetação em suas lances iniciais.

Para minha grata surpresa, havia uma linha muito bonita e natural, a qual optei por conquistar logo depois, no dia 11 de março, na companhia mais do que especial do meu filho João Pedro, quem prontamente aceitou o convite.

Chegamos no parque às 7:55h, esperando cinco minutos para que os portões se abrissem. Fomos o primeiro carro a entrar no parque neste dia, seguindo diretamente ao ponto inicial da trilha, onde estacionamos por volta das 8:15h. Caminhamos de forma rápida, porém com bastante atenção, já que estávamos com quase 50 quilos nas mochilas (somadas as duas), cheias de equipamento para a conquista e muita, mas muita água. Atingimos a base por volta das 8:50h, nos equipando e iniciando a aventura às 09:20h.
O lance inicial, embora bem vertical e um pouco "sujo" com muitas folhas secas, possui enormes agarras, conferindo movimentos bem interessantes, lembrando um boulder. A sequência evolui para lances bem delicados, em micro cristais que por vezes ficam "esfarelentos", dificultando e gerando uma boa dose de emoção. A metade inferior desta primeira enfiada representa o crux da via, graduado em 5ºsup, possuindo proteções próximas (padrão E1). A segunda metade da primeira enfiada segue em diagonal para a esquerda, já em lances bem mais tranquilos e com as proteções mais espaçadas, até atingir a P1, 55 metros acima da base.

A maioria da segunda enfiada possui graduação relativamente constante em 4º grau, com algumas passadas mais simples, mesclando lances em agarras e aderência, finalizando no ponto mais trabalhoso da via: o enorme teto. Ao chegar embaixo dele, busquei o ponto de menor resistência, tentando de várias formas vencê-lo em livre, mas foi uma batalha perdida... após muitas tentativas, seguindo pela linha mais natural possível, com lances em livre de até 5º grau, a barriga fica simplesmente lisa, o que me forçou a fazer um pequeno trecho em artificial (A1), com três pontos de apoio, até atingir um ótimo platô, no qual estabeleci a P2, fechando a segunda enfiada também com 55 metros.
Assim como na primeira enfiada (apesar de uma pequena queda), João veio escalando como um foguete, chegando até a ensaiar a virada do negativo em livre, até perceber que de fato as agarras somem em determinado ponto, tornando o artificial inevitável. De todo modo, trata-se de um lance curto e sem muitas complicações, tanto que fizemos mesmo sem ter estribos.

A saída da P2 representa o final da barriga, demandando mais uma passada com auxílio das proteções da parada, em um breve lance em A0. Depois disso, a via volta a ser feita em livre, em lances de aderência bem interessantes, até que a parede perca inclinação, para que a terceira e última parada seja alcançada, fechando assim os 30 metros finais.
Estabelecemos a P3 às 12:30h em ponto, após pouco mais de três horas de conquista, finalizando assim o "Paredão Almir Siller", graduado em 4º Vsup A1 E2 D1 - 140m. As proteções de progressão foram feitas com chapas simples em aço carbono 1020, enquanto as proteções das paradas (e paradas intermediárias, que permitem rapel com corda única de 60m), foram feitas com chepeletas PinGo em inox 304L (exceto pela primeira parada intermediária, que está com uma PinGo e uma chapa de aço carbono).

Após tirarmos algumas fotos, nos hidratarmos e apreciarmos a belíssima vista (esta parte é realmente alucinante!), iniciamos os 5 rapeis às 12:40h. Apesar de possuir alguns lances que demandam um pouco de atenção (a virada do teto e algumas diagonais) a descida foi feita sem problemas e em menos de 30 minutos já estávamos de volta à base. Depois de organizarmos o equipamento, com mais 30 minutos de trilha, chegamos de volta ao carro às 14h em ponto, exaustos e imundos, mas extremamente felizes por termos concluído toda a aventura em pouco menos de 6 horas e pela merecida homenagem feita ao querido amigo Almir, eternizado nas montanhas.
Agradecimentos ao meu filho, João Pedro, pela incrível parceria! Te amo!


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