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Foto do escritorPedro Bugim

Conquistas em Pancas / ES - "Literalmente Lateral" (Parte 1 de 5)

Atualizado: 30 de out. de 2020

Sim, o paraíso dos escaladores existe na Terra e ele se chama Pancas!

Laura Petroni no final da via "Literalmente Lateral" (D2 2º IVsup E2 - 325m). Pancas / ES
Laura Petroni ao final da conquista da via "Literalmente Lateral" (D2 2º IVsup E2 - 325m). Pancas / ES

O ano de 2020 tem se mostrado de provação para muitas pessoas, por conta da pandemia do novo coronavírus. No meu caso, não foi diferente, tendo me mantido em isolamento social junto à minha esposa, Laura, por meses a fio. Exceto por raríssimas atividades, todas bastante controladas, passamos este período praticamente longe de qualquer pessoa e montanha. Entretanto, já com férias vencidas e saturados de trabalho até a alma, tomamos a decisão de realizar uma viagem para recarregar as energias.


Desde que me entendo por montanhista, escuto histórias de queridos amigos, sobre as desafiadoras agulhas de Pancas / ES, bem como sobre a abundância de paredes (muitas delas, virgens), nesta localidade. Uma das histórias mais marcantes, certamente é sobre a conquista da primeira via de Pancas, a "Chaminé Brasilia", na pedra da Agulha, em 1959, pelo Pellegrini, Carlos Russo e cia. Curiosamente, a cidade só voltou a receber uma nova via no ano de 2001, totalizando, em 2020, apenas 43 linhas finalizadas, apesar da quantidade impressionante de montanhas.

Linha da via "Literalmente Lateral" (D2 2º IVsup E2 - 325m - Mista), Pedra da Boca
Pedro Bugim e Laura Petroni, na conquista da "Literalmente Lateral" (D2 2º IVsup E2 - 325m - Mista)

Unindo a grande possibilidade da abertura de novas linhas, o fato de ainda não conhecer a região e dela estar em uma zona considerada "verde" (menor incidência da Covid-19 e maior controle da pandemia), eu e Laura decidimos passar duas semanas por lá, mesclando trabalho (ainda em regime de home office) e escaladas.


Desde nossa casa, na Tijuca / RJ, até o centro de Pancas, são pouco mais de 700Km de estrada, que, feitos em uma única tacada, representam quase 11 horas de direção. Saindo do Rio de Janeiro no dia 19 de setembro, por volta das 11 horas da manhã, nossa intenção seria fazer o percurso em dois dias, dormindo no carro, no meio do caminho. Entretanto, a ida foi tão agradável e livre de complicações, que acabamos tocando direto para o nosso objetivo, por lá chagando às 23h.


Ainda da estrada, fiz contato com o Fabinho, proprietário do camping Cantinho do Céu, combinando nossa estada por lá, para os próximos dois dias, o que se mostraria uma decisão muito acertada. O local possui ótima estrutura de cozinha e banheiros externos, além de ampla área - muito bem cuidada - para acampar e estacionar. Como chegamos tarde da noite, não tivemos muitas chances de explorar o local, assim como não sabíamos a visão do entorno.

, Pedra da Boca - Pancas / ES
Pedro Bugim na canaleta inicial da "Literalmente Lateral", Pedra da Boca - Pancas / ES

Acordamos cedo, por volta das 6:30h, com alguns grupos que chegavam, para realizar caminhadas e rapel. Tamanha foi a nossa surpresa ao sair da barraca, com o dia claro... inúmeras montanhas belíssimas, imponentes, majestosas... todas praticamente ao nosso lado! Foi um deleite que nos fez esquecer todo o cansaço da viagem do dia anterior, para rapidamente organizar o equipamento e partir para as paredes. Não sem antes conversar com o Fabinho, ótimo conhecedor das montanhas e escaladas do local, que gentilmente nos direcionou a uma bonita linha, ainda virgem, na Pedra da Boca.


Começamos a caminhar por volta das 7:30h e, menos de 15 minutos depois, já estávamos na base de uma parede impressionante, nos equipando. O início da conquista foi feito à esquerda da via "Irara", começando em uma bonita (embora fácil) canaleta, protegida com algumas poucas chapeletas, evoluindo para fendas sólidas, protegidas em friends pequenos e médios, até atingir a P1, a 60 metros do solo. Deste ponto em diante, pega-se um diedro em horizontal para a direita, feito inteiramente em móvel, com peças grandes, até atingir a P2. Deste ponto, sobe-se praticamente reto, em proteções fixas, passando pelo crux da via, até atingir a P3. O crux é bem característico da maioria das escaladas em Pancas, apresentando pequenos cristais com ótima aderência.

Laura Petroni na P1 da "Literalmente Lateral", com visão do primeiro diedro, em móvel

A quarta enfiada segue um enorme diedro, também para a direita, protegido em móvel, entretanto, desta vez, consideravelmente mais fácil que o primeiro. A quinta enfiada inicia em lances de 3º grau e vai facilitando até virar uma caminhada, para atingir a P5. A última enfiada ainda possui um lance mais vertical, embora fácil, para atingir a crista do cume.

Primeira via da viagem conquistada!!! Apesar do dia ter começado com nuvens, o sol se fez presente da metade da escalada até o final, nos castigando de forma inclemente. Mas a vontade era tão grande, que, às 13:30h, após cerca de 6 horas de atividade, já estávamos de volta à base, com a via completamente finalizada. Assim nasceu a "Literalmente Lateral" (D2 2º IVsup E2 - 325m - Mista), via que mescla proteções fixas e longos lances em móvel, com paradas duplas a cada 60 metros. O rapel é possível apenas com duas cordas de 60m, contudo, recomenda-se descer por outra via, ou por trilha, por conta das longas horizontais.





Abaixo, arquivo kzm (GPS) de acesso à base da via.

O resto do dia foi dedicado a ótimas prosas com o Fabinho e com a turma que ia chagando das atividades realizadas no entorno do Sítio Cantinho do Céu, o que foi muito bom para entendermos melhor sobre o local e traçarmos nossos próximos planos.


Mal sabíamos que esta seria apenas a primeira, de sete belas conquistas na região! Mas isso fico para os próximos posts. ;-)


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