Depois da conquista de duas longas vias, foi a vez de encontrar algo mais leve para "descansar", aproveitando para dar uma pequena aula de escalada em Pancas!
Desde a primeira conquista de uma via de escaladas em Pancas, a “Chaminé Brasília”, na Pedra da Agulha, em 1959, a cidade já recebeu dezenas de novas vias, mas em geral, sempre seguindo alguma das três características: ou é difícil, ou é longa, ou é exposta. Com isso em mente, além da necessidade de um "refresco", resolvemos abrir uma via que fosse curta (ao menos, para os padrões locais), com baixa graduação e que possuísse proteções fixas com pouco distanciamento, conferindo menor exposição.
Com isso, o dia 25 de setembro, uma sexta feira, seria reservado para esta atividade mais "light". Vindos de duas longas conquistas, um dia chuvoso e outros dias de intenso trabalho remoto, eu e Laura precisávamos de algo "social" para relaxar. E a parede escolhida foi uma que é facilmente visualizada da estrada, bem próxima à pousada que estávamos (Recanto das Montanhas), aparentemente se enquadrando em todos os quesitos que queríamos.
Aproveitamos para convidar o Hiarley, proprietário da pousada e grande incentivador dos esportes de montanha na cidade, para nos acompanhar. Foram também a sua filha, Rebeca, o amigo Waltinho e seu filho Virgílio, além de outro amigo das crianças, o Antonio.
A trilha em si é bem tranquila. Deixamos o carro praticamente em frente à parede, do outro lado da rodovia. Após atravessá-la, deve-se passar por baixo de uma cerca de arame farpado, passar por uma enorme figueira e seguir uma estrada de terra muito bem definida até quase a base. A parte final segue por um capim baixo, até efetivamente chegar-se à rocha. Este trajeto pode ser feito, em passos lentos, em cerca de 10 minutos.
Chegando à base, tratamos de deixar os convidados no maior conforto possível, com guarda sol e ventiladores portáteis (sim, eu e Laura carregamos isso na mochila!). Apesar do forte sol que fazia, haviam árvores bem na base, conferindo a todos uma agradável sombra também.
Abaixo, coordenadas GPS, para acesso à base das vias do Campo Escola de Pancas:
Eu e Laura nos equipamos rapidamente e escolhemos uma linha que parecia muito interessante, seguindo sempre por agarras e aderências, com os característicos cristais presentes em quase todas as vias de Pancas. Conforme nossa ideia inicial, apesar da baixa graduação, tomei o cuidado de proteger os lances de forma justa e constante, além de duplicar as proteções a cada 30 metros, permitindo o rapel com corda única, sempr em paradas duplas.
Curiosamente, pensávamos que a linha teria no máximo uns 40 metros, mas coforme eu ia subindo, a corda ia esticando e o final da parede teimava em não se aproximar. Assim, fechei a primeira enfiada com 60 metros, puxei a Laura (que subiu veloz como um foguete) e toquei para cima, completando mais uma curta enfiada, de 25m, até a vegetação do topo. Foi interessante ver como perdemos a noção do tamanho das paredes, haja vista a existência de montanhas verdadeiramente grandes ao redor, relegando um paredão de 85 metros a uma mera "falésia".
Ao descer, montamos top-rope na primeira parada dupla da linha, aos 30 metros de altura. Aproveitamos a baixa graduação deste parte, para dar algumas instruções de escalada aos amigos que estavam conosco, colocando todos para a sua primeira experiência vertical, o que se mostrou uma atividade muito divertida!
Hiarley não se continha de felicidade por, finalmente, "estar na pele" daqueles tantos escaladores que se hospedavam em sua pousada. Waltinho mostrou grande proficiência na subida e, sobretudo, no posicionamento para a descida. Rebeca e Antonio demoraram um pouco mais para se entender com o ambiente vertical. Mas o destaque do dia ficou com o Virgílio, subindo duas vezes e mostrando incrível facilidade em ambas!
No retorno da atividade, paramos na casa do Seu Moreno, pouco acima de onde estacionamos o carro. Por lá, tomamos, provavelmente, a cerveja mais gelada da viagem! Isso, além de termos uma tarde de conversas muito agradavél com o Seu Moreno, sua esposa e todos os amigos que nos acompanharam. Como o Moreno possuia um papagaio muito peculiar, do qual estava cuidando, não poderíamos ter pensado em outro nome para a via, que não "O Louro do Moreno" (D1 3º IIIsup E2 - 85m). E a parede foi carinhosamente batizada de "Campo Escola de Pancas".
Mas para ser de fato um "campo escola", a parede carecia de mais opções de treinamento. Assim, ao segundo dia de outubro, o nosso último na cidade, voltamos à mesma parede e emplacamos mais duas bonitas linhas, uma em cada lado da "O Louro do Moreno".
Começamos pela linha da esquerda, levemente mais simples que sua antecessora, possuindo uma única enfiada de 60 metros, também com ótimas proteções e parada dupla aos 30m de altura.
Na sequência, atacamos uma linha à direita da "Louro do Moreno", desta vez, em terreno bem mais vertical e desafiador, com lances um pouco mais complexos e bonitos de serem trabalhados. A terceira via da parede ficou com 70 metros, feitos em duas enfiadas mais curtas, de 40 e 30 metros, possuindo parada dupla nestas metragens. O rapel, sempre utilizando paradas duplas, com uma única corda, se faz possível juntando com a via da esquerda, no segundo rapel.
Estas duas vias foram batizadas como "A Gaita da Sirigaita" (D1 3º III E1/E2 - 60m) e "O Gaiteiro Gaiato" (D1 4º IVsup E1 - 70m), completando assim o primeiro campo escola de fato da cidade e finalizando uma belíssima viagem, que já deixou saudades no momento e que entramos no carro para voltar ao Rio de Janeiro!
Com relação às vias conquistadas nos dias entre estas conquistas do Campo Escola, elas serão abordadas em posts futuros. ;-)
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