Esta ótima opção de escalada no Perdido do Andaraí acaba de ganhar um "upgrade", com paradas duplas, paradas intermediárias de rapel, troca de proteções deterioradas e melhoria no lance inicial.
Recentemente, ouvi de um amigo, alguns elogios pelas conquistas no Campo Escola dos Enfermos, por se tratar de uma opção com vias de relativamente baixa graduação e com uma proteção bem justa. Além disso, ele comentou que adoraria subir o Perdido do Andaraí por alguma via, mas que as opções existentes ou eram muito expostas ou eram muito difíceis.
Parei para refletir e percebi que, de fato, a afirmação era verídica. Nada contra vias expostas, mesmo porque eu simplesmente ADORO vias neste estilo e acredito piamente que a pluralidade de estilos é algo que devemos defender com unhas e dentes. Mas olhando para o Perdido do Andaraí, especificamente, percebi que existem sim vias com graduação moderada, e muito bonitas, por sinal, como a "Edmundo Braga" ou a "Face Norte", mas ambas, com lances relativamente longos, o que pode afastar uma boa parcela daqueles que gostariam de escalar naquela parade.
Em contrapartida, temos vias melhor protegidas, como a "DGM" e a "Quarentena", ambas graduadas como E1. Entretanto, a primeira está cotada em 6° grau, enquanto que a segunda, possui algumas passadas de 7° e um crux de 8°a. Ou seja, também não são opções plausíveis para muitos.
Foi então que, após um outro comentário de uma amiga, lembrei-me de uma das primeiras vias que conquistei no local, o "Paredão Grampenstein" (3° IVsup E2 D1 - 205m). Minha amiga acabara de repetí-la e me deu um "puxão de orelha", pois a via contava apenas com paradas simples. Fato é que na época da conquista, as paradas duplas ainda não eram um consenso, além de eu não dispor de muitas proteções na época.
Não à toa, o nome da via remete à miscelânia de tipos de proteção utilizados à época: além de uma breve passada em móvel no fácil início (opcional), a via conta com grampos de meia polegada, chapeletas simples e chapeletas com argolas (todos em aço carbono). Ou seja, juntei todas as proteções que eu possuia e, fazendo um "Frankenstein" com elas, conquistei a via em conjunto com a Maria Fernanda, em duas investidas, sendo a primeira em setembro de 2012 e a segunda, em janeiro de 2013.
Voltando ao presente, após receber os dois comentários construtivos, decidi retornar à via, em conjunto da minha esposa Laura Petroni, e realizar uma pequena modernizada nela (o que foi feito no dia 26/12/2021), tornando-a um pouco mais acessível e agradável de ser escalada. Minha intenção não era intermediar os lances, já que as proteções estão posicionadas de forma bem justa de acordo com a graduação de cada lance. Exceção para o início da via, no qual a primeira proteção ficava horripilantemente alta, muito por conta da possibilidade da proteção móvel. De todo modo, mesmo com esta proteção, o risco de queda de base (embora o lance seja facílimo) era grande. Assim sendo, uma nova chapeleta foi posicionada entre a pequena fenda inicial e a antiga primeira proteção fixa.
Fora este pequeno ajuste, nenhum lance foi intermediado, entretanto, todas as paradas foram duplicadas, recebendo uma chapa PinGo (rapelável) em aço inox 304 ao lado de cada grampo original (ainda em perfeito estado).
Assim como as paradas foram duplicadas, tive o cuidado de criar paradas duplas intermediárias, no mínimo a cada 30 metros, permitindo assim o rapel com uma única corda de 60 metros.
Ao longo da via, pude observar também a degradação de algumas antigas chapeletas de aço carbono, que foram devidamente manutenidas por novas chapas do mesmo material. Apesar da troca, percebi que todas as proteções trocadas estavam ainda em ótimo estado e poderiam ter durado mais alguns anos. De todo modo, aproveitamos a viagem e garantimos alguns muitos anos de sobrevida para esta via.
Com relação à escalada em si, trata-se de uma via não muito curta, mas também, não muito longa, sem a presença de lances tão complexos, mas de uma beleza ímpar! A primeira enfiada é bem simples, feita em agarras e um pouco de aderência. Na segunda, a via ganha verticalidade e as agarras aumentam exponencialmente de tamanho. A terceira enfiada conta com o crux da via, muito bem protegido e feito em agarras e regletes. A quarta e última, tende a ir para a esquerda, em lances também verticais, mas repleto de boas agarras. É possível finalizar por um pequeno costão que leva à trilha do cume e descer tudo pela própria trilha.
Saindo da P3, há uma variante em móvel, que segue um diedro à direita. Na époa da conquista, o objetivo era seguir por este diedro até um sistema perfeito de fendas, que deveria ser escalado em móvel até o cume, entretanto, ao chegar nas fendas, nos deparamos com proteções fixas na mesma. Posteriormente, descobri ser a "Grito das Andorinhas", uma via que nunca repeti - e nem faço questão - por conta das abomináveis proteções fixas ao lado de fendas tão bonitas. Esta variante foi nomeada de "Variante da lusão", por motivos óbvios.
Fica então a dica de quem deseja escalar o Perdido do Andaraí, uma montanha impressionante e de fácil acesso, por uma via muito interessante, de graduação mediana e com proteções um tanto quanto justas.
Faça AQUI o download do tracklog até a base do "Pr. Grampenstein". ;-)
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