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Novos setores de escalada na Piscina Natural Zé Mondrongo - Piratininga / RJ

Foto do escritor: Pedro BugimPedro Bugim
Após uma breve exploração, percebi que o local, além de super agradável, com um acesso extremamente simples e banho de mar, possuía também diversas ótimas possibilidades de vias de escalada, tornando-se assim um novo point.
Visão geral dos setores da Piscina Natural do Zé Mondrongo (a Falésia de Fora fica mais à direita)
Visão geral dos setores da Piscina Natural do Zé Mondrongo (a Falésia de Fora fica mais à direita)

Por algum motivo que (confesso) não me recordo, acabei vendo uma foto da tal "Piscina Natural Zé Mondrongo", em uma enseada mais recuada, depois da lateral esquerda da praia de Piratininga, também conhecida como Prainha de Piratininga. O que me chamou a atenção, imediatamente, era a presença de uma bonita parede ao fundo. Não demorou muito, resolvi fazer uma exploração no local, no dia 15 de fevereiro de 2025, saindo de casa por volta das 5:30h da manhã. Trânsito maravilhoso, o que me fez levar meros 35 minutos da Tijuca até o ponto em que estacionei o carro, praticamente em frente à Prainha de Piratininga.



Comecei a caminhada pela areia, seguindo em direção às lajes no final da praia, por onde deve-se seguir, pegando uma espécie de caminho de pescadores, por entre as pedras e pequenos trechos de areia, até um pequeno costão que leva à trilha em si. Deste ponto em diante, trechos de capim colonião e bons trechos de mata fechada, o que confere ao caminho uma agradável caminhada. O trajeto completo desde o carro até a Piscina Zé Mondrongo leva cerca de 15 minutos, sem possuir nenhum grande obstáculo ou desníveis bizarros. Ou seja, acesso muito, mas muito social.

O incrível nascer do sol, visto do início da trilha, ainda na praia
O incrível nascer do sol, visto do início da trilha, ainda na praia

Chegando à piscina natural, percebi algumas possibilidades instantaneamente, já mentalizando 4 setores distintos, segregados na Parede Principal, Parede da Esquerda, Bloco da Direita e um setor mais "afastado", sendo a Falésia de Fora. Como eu estava com pouco tempo neste primeiro dia de explorações, foquei no Bloco da Direita, nitidamente mais curto do que as outras opções.


Me equipei bem rápido e antes das 7h da manhã, eu já estava realizando a primeira conquista, em auto-segurança, criando assim a via de nome homônimo ao local: "Mondrongo", graduada em 4º grau, possuindo 10 metros e protegida em chapas PinGo inox 304L, com parada dupla no topo. Predominância em agarras e regletes, com lances muito interessantes. Uma pena ser tão curta....

A belíssima e agradável Piscina do Zé Mondrongo
A belíssima e agradável Piscina do Zé Mondrongo

Logo na sequência, foquei nas duas linhas à esquerda, conquistando assim as "Mocorongo" (IV E1 - 10m) e a "Mequetrefe" (V E1 - 10m), que, tal qual a "Mondrongo", são protegidas em chapas PinGo inox 304L e possuem parada dupla no topo, sacramentando assim o início de um novo point de escaladas em Niterói. Por vota das 9:45h eu já estava de volta ao carro, chegando em casa antes das 11h da manhã!

Visão geral das vias do Bloco da Direita
Visão geral das vias do Bloco da Direita

A segunda investida foi feita três dias depois, no dia 18 de fevereiro, igualmente em solitário. O foco desta vez foi investir na Parede Principal e na Parede da Esquerda. Para tal, cheguei mais cedo do que a primeira investida, haja vista estarmos passando por uma onda de calor surreal, que fez com que a temperatura batesse 42º no primeiro dia, ainda às 9:45h da manhã. Nesta segunda investida, os termômetros marcavam impressionantes 46º, às 9:30h da manhã, quando retornei ao carro, o que mostra que o "trabalho" foi realmente exaustivo.


Iniciei esta segunda investida abrindo uma pequena picada que sai de uma gruta, na lateral da Parede Principal, sempre em diagonal para a direita, em terreno vertical e com vegetação espinhenta, até finalmente chegar à rocha. Deste ponto, me equipei e iniciei uma bonita via, que foi finalizada em pouco tempo, contando com 30 metros e graduada em 3º grau, seguindo por uma bonita canaleta em diagonal para a direita. Com o calor bizarro que fazia, mesmo ainda sendo 9h da manhã, resolvi dar a exploração por encerrada, nomeando a via de "Exalando Enxofre" (III E1 - 30m), por motivos óbvios (sim, o calor e o esforço seriam suficientes para fazer qualquer pessoa sair que nem um esgoto ambulante).

Temperatura bizarra, às 9:30h da manhã!
Temperatura bizarra, às 9:30h da manhã!

A terceira investida veio no dia 21 de fevereiro, na qual o foco foi uma bonita linha na parede principal, vindo desde as lajes de baixo, sem a necessidade de fazer a picada aberta anteriormente. A maior preocupação era com uma proeminente barriga existente na metade inferior da parede, logo após uma pequena barreira de vegetação. Entretanto, ao atingir este ponto, tive a grata surpresa em encontrar um diedro vertical repleto de agarras, que permitiu a passagem sem grandes contratempos. A metade superior continua com ótimas agarras até o topo da parede, gerando lances muito bacanas, embora não complexos. Por fim, a via foi apelidada de "Assinado Satanás", graduada em IV E1 - 60m.


Como esta atividade inicial foi bem rápida, estando de volta à base antes das 8h da manhã, resolvi investir na Parede da Esquerda, conquistando mais quatro vias curtas, com graduações diversas e com lances em técnicas distintas (aderência, agarras, regletes e até oposição). O nome das vias foram carinhosamente selecionados por eu estar curtindo esta deliciosa fase de ser pai, com um filho aos 5 meses de idade: "Insônia Forçada” (IV E1 - 12m), “Gases dos Infernos” (III E1 - 12m) , “Engatinhando” (II E1 - 12m) e “Fraldinha Suja” (V E1 - 12m). rs...

Visão geral das vias na Parede da Esquerda
Visão geral das vias na Parede da Esquerda

A quarta investida foi, por enquanto, a única em que não fui sozinho. Desta vez, tive a ótima companhia do amigo Bernardo Chiesa, que me encontrou na Tijuca às 5:50h do dia 02 de março, para irmos juntos. Lá chegamos às 6:30h, fazendo a trilha de forma rápida e começando a conquistar antes das 7h da manhã.


Nossa escolha foi uma linha mais longa, embora sinuosa, que compartilha os 10 metros iniciais com a via "Assinado Satanás", até o óbvio platô de vegetação. Deste ponto, a via segue pela esquerda, em uma belíssima barriga, feita em pequenas agarras, sendo este o crux da via, em 5ºsup. Na sequência, a parede perde um pouco de verticalidade e as agarras aumentam, simplificando os lances. Por fim, há uma grande horizontal, bem fácil (quase uma caminhada), para a esquerda, até a base da via "Exalando Enxofre". Neste ponto foi estabelecida a P1, deixando a primeira enfiada com 50 metros.

Bernardo Chiesa logo após o crux da "Los Barbudos"
Bernardo Chiesa logo após o crux da "Los Barbudos"

Na sequência, o Bernardo pegou a dianteira, para conquistar a segunda enfiada, iniciando em lances mais verticais, com agarras e passadas muito interessantes, na casa do 4º grau. A metade superior desta enfiada perde verticalidade drasticamente, sendo uma escalada "burocrática" até atingir a segunda e última parada da via, 60 metros após a P1. Ambas as paradas foram duplicadas, assim como a parada dupla intermediária da segunda enfiada. O rapel da primeira enfiada pode ser feito pela via "Assinado Satanás", ou o escape pode ser feito pela picada de acesso à base da "Exalando Enxofre".


Por volta das 9:45h já estávamos de volta à base, comemorando a conquista da via "Los Barbudos" (4º Vsup E1 - 110m), sendo esta a via mais longa do setor e uma das mais interessantes! O nome foi dado após uma brincadeira feita pela Maria Fernanda, no grupo de guias do CEB, se referindo aos dois conquistadores... Acabamos curtindo e "roubamos" a ideia.

Los barbudos... ao final da conquista da "Los Barbudos" 😂
Los barbudos... ao final da conquista da "Los Barbudos" 😂

Nestas quatro investidas, fiquei concentrado na óbvia enseada principal da Piscina Natural do Zé Mondrongo, mas fato é que existem outras possibilidades nas redondezas, tal qual uma bela parede em uma espécie de cânion, mais à direita. Curioso com esta possibilidade, resolvi retornar apenas dois dias após a última conquista, no dia 04 de março. Mais uma vez, fui sozinho, sobretudo por ter sido uma decisão em cima da hora e por ser exatamente no meio do carnaval, o que limitaria imensamente a possibilidade de conseguir alguém sóbrio para me acompanhar às 5h da madrugada.

Croqui das vias da Parede Principal da Piscina Natural do Zé Mondrongo
Croqui das vias da Parede Principal da Piscina Natural do Zé Mondrongo

Após a breve trilha, desta vez com um pequeno desvio na parte final para acessar as lajes deste novo setor, cheguei ao topo desta falésia com um clima espetacular, pois pela primeira vez havia nuvens no céu e vento para refrescar, além de ter chegado extremamente cedo para as conquistas. Desci por um trajeto nitidamente utilizado por pescadores, para acessar a base, de onde comecei os trabalhos conquistando a via "Derramar a Canção" (III E1 - 13m), via bem fácil, em uma linha escolhida a dedo justamente para eu poder "conhecer" a parede e suas particularidades.

Vista do Rio de Janeiro, de cima da Falésia de Fora
Vista do Rio de Janeiro, de cima da Falésia de Fora

Depois disso, foquei em uma linha mais à esquerda, um pouco mais complexa, por possuir um lance mais vertical em seu final, mas mantendo as ótimas agarras, criando assim a "Farinhar Bem" (IV E1 - 15m). Após esta conquista, ao chegar no topo, percebi algo que não havia visto antes: dois grampos em aço carbono no topo da falésia, completamente corroídos, mais à esquerda de onde eu estava conquistando. Ufa! Ainda bem que não iniciei por estas duas linhas, nitidamente abertas exclusivamente para top-rope. Infelizmente, não consegui encontrar nenhuma informação sobre elas depois, mas são duas opções interessantes, caso haja manutenção no futuro.


Na sequência, indo mais para a direita da parede, conquistei mais três vias, sendo as "Descosturou a Bainha" (V E1 - 15m) - sendo esta a que possui o lance mais complexo de todas no setor -, a "Mesmo que Doa" (IVsup E1 - 15m) e a "Na Poça do Mundo" (IVsup E1 - 15m). Todas as vias seguem um padrão bem semelhante, com lances mais tranquilos na sua metade inferior, aumentando a graduação na porção final, sempre em agarras, horas maiores, hora menores. Todas estão bem protegidas por chapas PinGo Inox 304L, contando com parada dupla em cada topo. Acabei a atividade bem cedo, chegando de volta ao carro por volta das 9h da manhã, assustado com a praia completamente lotada, por conta do feriadão. Este setor foi apelidado de "Falésia de Fora".

Pedro Bugim, conquistando em solitário na Falésia de Fora
Pedro Bugim, conquistando em solitário na Falésia de Fora

O nome das vias deste setor, por mais bizarros que pareçam, possuem um sentido: São trechos da música "Maria de Verdade", da Marisa Monte. Alguns dizem que sua letra é um tributo à complexidade do ser, à paixão e à capacidade de resistor e se reinventar. Outros dizem que ela expressa o desejo de cuidar e proteger a pessoa amada, mas sem aprisioná-la, ressaltando a importância da liberdade individual. De todo modo, a verdade é que eu adorava esta música pela melodia, mas nunca havia entendido mais do que duas palavras seguidas da letra... e chegando em casa, após as conquistas, eu e Laura (minha esposa) passamos um bom tempo tentando encontrar o nome da música, sua autoria e o principal: a letra. Tomamos um susto, pois era completamente psicodélica e aos poucos os nomes das vias foram surgindo, conforme líamos os trechos musicais. Sim, coisa de doido. 😅


Até o momento, foram cinco investidas realizadas, com a abertura de 15 vias de diferentes graduações e tamanhos, sendo uma ótima opção para invasões, ou para uma breve escalada matinal, com acesso simples e rápido, além de possuir uma vista incrível e a opção de se banhar nas piscinas naturais que são formadas na base.

Visão geral das vias da Falésia de Fora
Visão geral das vias da Falésia de Fora

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